Perifa Connection realiza projeto LAB AFRO com aula de Tamiris Coutinho sob o tema "Funk - entre a marginalização e a resistência"
- Tamiris Coutinho
- 17 de mai. de 2023
- 3 min de leitura
Atualizado: 1 de fev. de 2024
Aconteceu no dia 17/05, a aula "Funk: entre a marginalização e a resistência", pelo projeto Perifa Connection, da LAB AFRO.
O funk foi o elo central que direcionou o encontro que partiu do questionamento: QUAIS CAMINHOS HISTÓRICOS, MUSICAIS E POLÍTICOS O FUNK PERCORREU AO LONGO DA HISTÓRIA SOB A ÓTICA DA CULTURA EXPRESSIVA NEGRA?
O debate teve com o ponto de partida a obra "A Alma do Povo Negro" de William Edward Burghardt, mais conhecido como "W. E. B." Du Bois.
Du Bois foi um sociólogo, socialista, historiador, ativista pelos direitos civis que protestou fortemente contra os linchamentos, as leis Jim Crow e a discriminação na educação e no emprego. No livro lançado em 1903, Du Bois dá início a estratégia de análise crítica acadêmica da musicalidade negra, evidenciando como ela provoca a sensibilização dos negros para o significado da sua própria cultura.
Nesse sentido, destaca a cultura negra sob o aspecto de mediação dos efeitos do terror da escravidão a partir das "canções de lamento". Conforme Du Bois, as canções de lamento são as cações nas quais a "alma do escravo negro falava aos homens". Ainda de acordo com o autor, "O que são essas canções e qual é seu significado? Eu conheço pouquíssimo de música e sou incapaz de usar sua linguagem técnica, mas conheço algumas coisas sobre homens, e por isso sei que essas canções são a mensagem articulada do escravo para o mundo" (DU BOIS, 2021, p. 274)
No livro "Cai de boca no meu b*c3t@o: o funk como potência do empoderamento feminino" mergulho na black music estadunidense a fim de demonstrar como as "canções de lamento" foram pioneiras nos diversos gêneros e subgêneros musicais que vieram a seguir: spitiruals, blues, jazz, soul, rock, funky, rap, por exemplo.
Dessa forma, o objetivo era evidenciar a importância da cultura expressiva negra, sobretudo quanto a musicalidade, na perspectiva da modernidade negra.
A modernidade negra é detalhada por Antonio Sérgio Alfredo Guimarães no livro "Modernidades Negras: a formação racial brasileira (1930 - 1970), lançado em 2021. O autor é o mais citado no Brasil nos estudos sobre relações de raça, classe e cor, e defensor de primeira hora das ações afirmativas e das cotas raciais.
Na obra, o autor propõe a modernidade negra como uma revolução estética na música, na literatura e nas artes plásticas, mas também, concomitantemente, na representação de si dos próprios negros e na construção de um ideal político (GUIMARÃES, 2021, p. 15). Nas Américas, se inicia com a abolição da escravatura e incorporação dos negros como "cidadãos" (p.70). Além disso, coloca a modernidade negra como o processo de inclusão cultural e simbólica dos negros à sociedade ocidental (p. 69) e a incorporação dos negros em massa ao mundo do espetáculo (p. 74). Esse processo, conforme o autor, acontece em dois tempos: (1) representação dos negros pelos europeus de forma positiva através da arte; (2) representação positiva de si, feita por negros para si e para os brancos.
Nessa perspectiva, podemos pontuar o movimento Black Rio que desembocou no movimento funk como conhecemos hoje. A partir do Black Rio, portanto, trilhamos a trajetória do funk desde os anos 80 até os dias atuais: melôs, montagens de galera, funk consciente, funk putaria, funk proibidão, ostentação, 150bpm, funk pop.
Dentro dessa trajetória, o debate quanto a atuação das mulheres foi o foco central. Partimos da proposta de quatro gerações de mulheres no funk - trabalhadas no Livro Cai de Boca.
O encontro foi repleto de trocas de experiências, debates e aprendizado e também contou com muitas risadas, danças e até um pouco de nostalgia ao lembrar dos funks antigos com a turma.
Veja um pouquinho como foi a aula: @tamiriiscoutinho
Obrigada Perifa Connection e LAB Afro pelo convite, e a turma pelo engajamento.
Tamiris Coutinho
Mestranda do Programa de Pós Graduação em Comunicação na Universidade Federal Fluminense (UFF), vinculada ao Laboratório de Pesquisa em Culturas Urbanas e Tecnologias (Labcult), pesquisando a cena do trap no Rio de Janeiro.
Autora de "Cai de boca no meu b*c3t@o: o funk como potência do empoderamento feminino. Graduada em Relações Públicas pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), com formação em Música e Negócios pelo Instituto Gêneses da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RIO).
Label manager atuando no planejamento e operação de lançamentos musicais digitais.
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